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Males fazem bem ao presidente

Afonso Barroso*

O presidente Bolsonaro é um político que se alimenta do mal. Os fatos comprovam. Em primeiro lugar, ele se tornou presidente graças aos efeitos de dois males. O primeiro foi o mal da corrupção que inundou os governos do PT e se alastrou ao ponto de quase quebrar a maior empresa brasileira, a Petrobras. A população viu na eleição a chance de extirpar o mal da roubalheira e acabou elegendo um capitão de ultradireita, sem se importar com sua quase insignificância como parlamentar e sua louvação sem pudor à ditadura e a torturadores.

Surgiu depois outro mal, que da mesma forma veio para o bem do candidato. Fez-lhe um bem danado a facada na barriga que levou de um tal Adélio Bispo, jagunço que se fez de louco e eximiu-se de dizer quem pagou a empreitada. Esse mal livrou o candidato Bolsonaro dos debates que seriam o ponto alto e nefrálgico da campanha presidencial. Como estava hospitalizado e, portanto, impossibilitado de debater, elegeu-se sem se expor ao ridículo que fatalmente iria protagonizar se aos debates comparecesse. Ficou, então, livre da perda de milhares, talvez milhões de votos.

Surge agora outro mal, este o pior de todos, a pandemia, que fez muito bem ao presidente. Graças a ela, Bolsonaro, que de todos os males tem um pouco, mas de bobo não tem nada, ganhou a oportunidade de lançar mão do seu lado petista, metendo uma mesada de R$ 600 no bolso dos eleitores sem emprego e sem recursos.

Ao eleitor acudido no momento de desespero não importa que o presidente aja contra a ciência ou a sensatez. Pode pregar a verticalização ou a supressão do confinamento e do distanciamento social. Pode receitar um remédio que nem placebo é, como se fosse o pai da medicina. Pode se misturar aos apoiadores sem usar máscara. Pode até infectar-se com o vírus, mal que também usa para difundir a ideia de que é imune a qualquer Covid.

E assim caminha o presidente, de olho na eleição de 2022, que ele até pensou em suprimir com a implantação de uma ditadura. Para sua decepção, as forças armadas não embarcaram nessa canoa, preferindo manter-se nos seus limites constitucionais, sem patrocinar a ruptura que um dos zeros, seu filho, chegou a prever em rede social antidemocrática.

Não se sabe que outro mal se abaterá sobre o país para alimentar a sanha ideológica da família bolsonariana. Mas há sempre a esperança de que a providência divina, que está acima de todas as ciências, nos forneça uma vacina contra algum mal em possível gestação nos meandros do poder.

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