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Maior produtor mundial, Brasil terá importação recorde de soja, que pode chegar a 3 milhões de toneladas

SÃO PAULO E BRASÍLIA – O clima quente e seco em diversas regiões produtoras do país começa a gerar atrasos na plantação de soja, o que levará o Brasil, maior produtor do mundo, a importar um volume recorde do grão este ano. Para enfrentar a alta de preços, o governo decidiu ontem reduzir a zero, temporariamente, as alíquotas do imposto de importação sobre o complexo soja (grão, farelo e óleo), além do milho.

Especialistas acreditam que o país pode ser obrigado a importar 3 milhões de toneladas de soja. O país consome cerca de 48 milhões de toneladas. Nos últimos três anos, o Brasil importou, em média, 258 mil toneladas por ano.

O recorde mais recente foi registrado em 2013, quando foram compradas 580 mil toneladas. No mercado interno, o valor da saca de soja está 86,5% acima do praticado no mesmo período do ano passado.

O atraso no plantio da soja pode comprometer a produção futura de milho e de algodão. A safrinha destes produtos, realizada no intervalo entre as duas safras de soja, precisa ser plantada em fevereiro. Mas, com a soja atrasando, esta janela pode ser perdida.

De acordo com Bartolomeu Braz, presidente da Aprosoja Brasil, os produtores locais já plantaram cerca de 5% do esperado para a safra. O plantio, nesta época do ano, normalmente fica entre 20% e 25%.

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— Este atraso não é um problema para a soja em si, ela tem tempo de se recuperar com a chuvas que certamente virão. Este tipo de adiamento não é algo novo, tem a ver com questões climáticas, como a La Niña (fenômeno de diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico) — afirmou Braz.

Ele reconhece que a importação deve bater um novo recorde.

—O mercado está muito saturado, pois produtores querem exportar o grão para aproveitar a alta cotação do dólar, indústrias de frangos e carnes querem insumos para ração, há mais usinas de biocombustível e o consumo interno está elevado — explica Tarso Veloso, gerente da AgResource, uma consultoria especializada em mercados agrícolas globais de Chicago (EUA).

Allan Silveira, superintende de Gestão da Oferta da Conab, acredita que a importação será recorde, mas estima algo próximo a 800 mil toneladas de soja.

— Ainda acreditamos que vai chover, mas em algumas regiões, como Sorriso, o preço da saca está o dobro do ano passado — afirmou.

Imposto zerado até 2021

A decisão de zerar o imposto de importação foi tomada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério da Economia. A medida deve vigorar até o primeiro trimestre do ano que vem, quando a safra de grãos já terá sido colhida e o mercado deverá estar plenamente abastecido.

A diminuição do Imposto de Importação, que varia de 8% a 10%, dependendo do produto, vale para os países que não fazem parte do Mercosul. Isto porque o comércio dentro do bloco — com poucas exceções, como açúcar e automóveis — é isento de tributos.

Principal concorrente do Brasil na venda de produtos agrícolas em terceiros países, os Estados Unidos serão os principais beneficiados com a queda das tarifas.

No início de setembro, a Camex zerou a tarifa de arroz importado de países de fora do Mercosul pela mesma razão. Os preços do produto subiram 17,9% este ano no mercado interno. A redução do tributo foi a alternativa encontrada pelo governo para tentar resolver o problema. A medida vale até dezembro, quando a tarifa voltará para o patamar de 12%.

A elevação dos preços da soja e do milho foi ainda mais expressiva. Isso fez com que a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) pedisse formalmente ao governo a suspensão temporária das alíquotas do imposto de importação desses produtos, usados no preparo de alimentos, principalmente, para frangos e suínos.

A questão da soja incomoda o presidente Jair Bolsonaro, que há uma semana avisou que os grandes produtores seriam chamados para uma reunião com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Por sua vez, os sojicultores já responderam que a única forma e aumentar a produção e evitar carestia e desabastecimento é dando incentivos ao aproveitamento de terras degradadas.

Marcos Heil Costa, climatologista da Universidade Federal de Viçosa, afirma que ainda é prematuro ligar diretamente as queimadas em algumas regiões do país ao atraso no plantio este ano.

— O que já é consenso é que a degradação ambiental, seja por queimadas ou desmatamento, tem alterado o clima ao longo dos anos, tornando o período de chuvas na região Norte e no Mato Grosso mais curto e tardio. Isso afeta a produtividade da soja no longo prazo e a capacidade de ter as safrinhas.

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