quinta-feira, abril 18Notícias Importantes
Shadow

Eu, Senhor, solteira? Elisabeth Elliot

Não havia uma grande vista da janela. A principal característica eram as lixeiras por trás da sala de jantar. As janelas fechadas não bloqueavam o tremendo barulho no início da manhã… No entanto, fiquei muito feliz por ter um pequeno espaço. Foi especialmente o que tinha desejado, e eu finalmente consegui quando estava no meu último ano de faculdade. Tinha uma cama, um armário, uma estante de livros, e no canto, perto da janela, uma mesa com uma cadeira e uma lâmpada. Um lugar de silêncio e solidão, um quarto do tipo que Jesus disse que nós entrássemos para orar.

Eu estudava e orava na mesinha. Havia árvores e um olmo velho atrás da lata de lixo e eu me distraia, frequentemente, por causa da multidão de esquilos que viviam lá. Assisti eles se preparando para o inverno, rasgando de cima para baixo, freneticamente transportando provisões, repreendendo, tagarelando, agitando suas caudas. Eu assisti as folhas das árvores mudar de cor e cair,  vi a chuva cair e se assentar sobre a auto-estrada, assisti a queda da neve sobre essas árvores e latas. Agora, quando sentarei à uma mesa diferente daquela, para ler cartas de jovens confusos, eu vou me tornar de novo naquela menina que olhava para a neve. O que eu usava não era muito diferente do que usam agora… Eu tinha duas saias, três blusas, e mais algumas blusas que fiz o meu melhor para misturar e combinar de modo que parecesse que eu estava vestindo roupas diferente. Nas quartas-feiras eram fáceis, pois todo mundo na classe usava o mesmo blazer de lã azul com um emblema da faculdade costurado sobre o bolso do peito.


Meu cabelo me incomodava. Ele era loiro, não tinha nenhuma onda e crescia cerca de uma polegada por mês. Como teria sido fácil usá-lo pendurado, mas isso era impensável na época. Meus cachos eram todos “uma farsa”. Eu só podia pagar uma permanente por ano, por isso, nos intervalos adotei o antigo sistema, enrolando fios de cabelo em volta do meu dedo e a cada noite antes de ir para a cama, prendia com um grampo. Se eu não podia fazer muito com o meu cabelo, eu poderia fazer menos ainda com o meu rosto. Como a maioria das garotas, eu desejava ser bonita, mas parecia inútil mexer muito com o aquilo que me foi dado…

Naquele ano eu precisava daquele quarto pequeno e acolhedor, talvez mais do que nunca, haviam algumas questões que iriam definir o rumo da minha vida e precisavam ser tratadas. Durante o verão passado eu tinha orado a Deus para saber se eu seria ou não uma missionária… Cheguei a conclusão de que foi Deus quem me chamou e que meu chamado era para a linguística [Elisabethe estudou grego em Wheaton para traduzir o Novo Testamento para língua dos nativos que ela evangelizou]. Pedi ao Senhor a confirmação e obtive, então era isso mesmo.  

Mas havia outro assunto que não estava resolvido de modo algum. Deus sabia que para esse assunto eu precisava de um lugar para ficar sozinha. A questão era sobre estar sozinha para o resto da minha vida. Eu perguntava: “Eu, Senhor, solteira?” Essa questão parecia se meter entre eu e os meus livros de texto grego quando me sentava à mesa, entre eu e minha Bíblia quando eu tentava ouvir Deus falar. Era uma obstrução às minhas orações e objeto recorrente em meus sonhos.

Eu falava frequentemente sobre isso com Deus. Não me lembro de mencionar isso a ninguém mais, por muitos meses. As duas moças que compartilhavam comigo o quarto não eram um terço do tipo popular que causa inveja. Elas eram tranquilas, meninas sensatas, alguns anos mais velha do que eu. Uma era musicista que passou a maior parte do tempo praticando órgão no conservatório, a outra, uma ex-marinheira experiente em fazer meias de tricô no padrão argyle…

Após a faculdade Jean casou. Bárbara ainda é solteira. Eu não me recordo de nenhuma conversa com elas sobre amor e casamento (embora deve ter tido alguma), mas eu estou perfeitamente certa de que para as três, a solteirice significava uma coisa: Virgindade. Se você fosse solteira não tinha que dormir com nenhum homem. Se havia de ser solteira permanentemente, jamais iria para cama com um homem. […]

A razão pela qual as minhas colegas de quarto e eu acreditávamos que solteirice era sinônimo de virgindade, não era porque éramos estudantes universitárias de cem anos atrás, quando todos acreditavam nisso. Não era porque não sabíamos de nada. Não era porque nós éramos muito ingênuas… Não era porque ainda não fomos “libertadas”, ou mesmo porque éramos simplesmente estúpidas. A razão era porque éramos cristãs. Valorizamos a santidade do sexo.

Sentei-me naquela mesa junto à janela e pensei muito sobre o casamento. Eu sabia o tipo de homem que eu queria. Ele teria que ser um homem que valorizava a virgindade, tanto a dele quanto a minha.

O que as mulheres querem hoje? O que os homens querem? Quero dizer, lá no fundo. O que eles realmente querem? Se “os tempos” mudaram, também mudaram os anseios humanos? E os princípios? Mudaram os princípios cristãos?

Eu digo não às três últimas perguntas, um enfático não! Estou convencida de que o coração humano tem fome de constância. Há apatia, monotonia, e tédio em tudo na vida, quando a virgindade e a pureza não são mais protegidas e valorizadas.
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Elisabeth Elliot
Livro: Passion and Purity 
(1º Capítulo condensado)
Tradução: Sara Abdala.

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