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Entre sonhos e visões: conheça o chamado missionário do pastor Eduardo Fernandes

Testemunhos, em geral, são muito edificantes. Eles nos mostram, de forma clara, Deus falando ou agindo em nossa vida. Testemunhos sobre chamado missionário, então, revelam que, de fato, Deus levanta pessoas para esta obra, supre as necessidades e as acompanha em todo e qualquer desafio. Com o missionário e pastor, Eduardo Fernandes, não foi diferente. Conheça mais sobre o seu chamado para a obra missionária.

 O chamado do pastor Eduardo Fernandes se deu quando ele ainda era novo na fé – com mais ou menos 10 meses desde que havia se convertido ao evangelho, em 1996 – e ele começou a se interessar pelo assunto, quando teve uma conferência missionária em sua igreja local, em Fortaleza – CE, cidade natal do missionário. “A partir dali eu fui buscando em oração o que Deus queria nesse sentido para a minha vida. Porque de maneira consciente e natural eu entendi a minha vocação de discípulo que quer levar outra pessoa a se tornar discípulo de Cristo. Então a minha pergunta para Deus era: fora do Brasil o que o Senhor quer?”

 O missionário conta que teve um sonho e este sonho fez ele entender para onde Deus queria levá-lo. “Tive um sonho em que eu estava subindo dunas de areias muita altas, areias claras, e escutava uma canção em um dialeto que eu não conhecia, e essa canção era ritmada por batuques e tambores e quando eu chegava ao topo da duna, eu olhava o horizonte e via muitas outras dunas – um cenário desértico e muitas casas arredondadas, feitas de barro e cobertas de palha. Havia vários negros vestidos de longas vestes brancas e eram essas pessoas que entoavam aquele cântico. Eu acordei com uma enorme sensação de paz, sentindo a presença de Deus no coração e uma convicção de que Deus estava me chamando para a África. Naquele momento Ele me mostrou um período que aconteceria no futuro na África. E foi o que aconteceu: quatro anos depois eu estava vendo com os meus próprios olhos aquilo que Deus me mostrou em sonho.”

 O pastor Eduardo começou, então, a participar de conferências missionárias e a percepção das necessidades das pessoas e o fato de sentir amor pelos perdidos e querer dar uma resposta, foram outros fatores do chamado.“Tendo em vista também a quantidade de pessoas que a gente sabia que tinha no Brasil, crentes, conhecedores da palavra, e outros bilhões que não tinham acesso ao evangelho. Então, essa também foi uma motivação.” Neste período de descoberta, o pastor conta que algo muito importante aconteceu quando ele estava orando em uma vigília, com os jovens da mocidade. “O Senhor me deu uma visão direta, em que o mapa do mundo se abria e uma mão apontava em todos os continentes do mapa. Começando na América do Sul, América do Norte, Europa, África, Ásia e Oceania, o Senhor me falou o seguinte: “o teu tempo aqui acabou. As nações te esperam. Povos te aguardam.” Isso aconteceu 2 anos e meio após o sonho, porque durante esse período o missionário servia a Deus na igreja local, trabalhando e terminando os estudos também. A partir desta visão, Eduardo começou realmente a pensar que era hora de se preparar, buscar uma alternativa e ir para o campo. Só que a dúvida permanecia, porque ele não queria se iludir e nem iludir as pessoas, achando que tinha chamado para fora do Brasil e depois não acontecer e dar um mau testemunho.

 O pastor conta, então, que na mesma semana, ele foi à casa de uma pessoa e lá Deus se manifestou novamente e deu à pessoa a mesma visão que tinha lhe dado. “Ele começou a falar sobre a visão e retratar na mesma ordem: ele viu o mapa do mundo se abrindo, a mão apontando para os continentes e depois repetiu as mesmas palavras: “O teu tempo aqui está acabando. As nações te esperam. Povos te aguardam.” Ele, então, ficou maravilhado, como que um jovem, do contexto nordestino, poderia ser representante de Deus nas nações. “Foi um impulso muito forte para eu resistir à oposição na igreja local, porque têm pessoas que não acreditam, algumas às vezes têm inveja, porque de certa forma você vai ter alguma notoriedade naquela comunidade, as pessoas vão falar mais de você e repercutir a sua viagem, a sua saída e assim fui enfrentando essas oposições, mas ao mesmo tempo a convicção era tão grande que o meu pastor acreditou no meu chamado e alguns da liderança local também resolveram apoiar, justamente porque apareceu esta alternativa que a gente procurava que era o projeto “Janela 10:40 e além: uma missão radical”, conhecido como “missão radical” ou “projeto radical” da Horizontes, que foi o mesmo que a missionária Charlotte Cruz participou.”

 Eduardo se inscreveu e foi para esse treinamento, em 1999, que incluiu, em 4 anos e meio, aproximadamente, estudos da missiologia, uma base de teologia, aspectos fundamentais da preparação missionária – como antropologia aplicada à missões e várias outras matéria – mas, sobretudo, o conviver em equipe e o tratar do caráter, que era a ênfase da Horizontes, e não apenas a preparação teológica e intelectual, mas também a do cotidiano e do dia a dia. “Ali aprendemos muitas coisas sobre trabalho em equipe, a conviver e se relacionar, a repartir e foi muito importante. Foram fundamentos que serviram e servem para toda a vida. Aprendemos a lavar a louça, por exemplo, porque tem muita gente que não tem noção e acha que a preparação missionária vai ser só absorver conhecimento, mas têm coisas que passam por esse lado do dia a dia, como aprender a cozinhar.”

 O pastor conta como foi a preparação. “Uma fase dessa preparação foi no Brasil, em Monte Verde – MG, onde era a base da Horizontes, que naquele período durou seis meses. O segundo semestre foi no Paraguai e na Argentina, para ter uma noção do impacto transcultural, mas não tão distante, em uma cultura mais próxima e em uma língua relativamente mais fácil, que é o espanhol, já que é bem parecido com o português. Depois voltamos e ficamos mais seis meses no Brasil, para mobilizar (falando de missões para as igrejas), levantar parceiros e mais gente para contribuir com o projeto. Depois desses seis meses no Brasil, fomos para o País de Gales por um curto tempo, no meu caso, um mês e meio, para um estudo básico de inglês e linguística, já que o nosso foco era ir para o oeste da África e no oeste da África se fala francês. Ao todo éramos 100 pessoas, quem ia para a Ásia ou Oriente Médio, ficou em Gales para estudar inglês, e uma parte do grande grupo, veio para a França, para estudar francês. Ficamos apenas três meses, mas os estudos continuaram, porque da França fomos para o Marrocos, que era o plano B. Na realidade, a intenção era ficar mais tempo na França, mas o governo francês negou o visto. Então, fomos para o Marrocos, e como nós tínhamos duas professoras dedicadas a ensinar francês ao grupo, elas foram com a gente, uma era da Suíça e a outra era da França, finalizamos o curso depois de seis meses no Marrocos. E isso já era uma experiência transcultural de imersão, porque o Marrocos é um país árabe, de contexto fechado, onde é proibida a pregação do evangelho. Aí a gente tinha toda essa noção de usar codinomes, não enviar cartas diretas às pessoas, mas somente através de alguém da missão que fosse nos visitar e que levaria essas cartas na bagagem pessoal, porque elas poderiam ser violadas e o governo poderia descobrir a atividade real, que já era suspeita e que acabou acontecendo depois com outros missionários, que foram expulsos. A comunicação era muito precária, a internet era discada, a gente só enviava lotes de e-mail rápidos.”

 Do Marrocos, o pastor Eduardo seguiu para o Níger, no Sahel africano, região que tem um baixo índice de IDH e a pobreza é imensa. “A ideia era trabalharmos lá por dois anos, mas acabamos ficando mais. Foi lá que eu me casei com a Valdirene, que é de Uberlândia – MG. Foi o primeiro casamento de brasileiros no Níger. Foi engraçado porque foi celebrado em língua francesa por um pastor americano e um outro pastor inglês. Foi uma mistura só! Então, como a gente era um grupo, foram organizados três casamentos no mesmo dia. A gente fez uma festa só, uma celebração só para três casais e, inclusive, um deles mora em Uberlândia atualmente e são pastores da comunidade haitiana.”

 Foi no Níger que Eduardo e Valdirene tiveram a primeira oportunidade de pastorear um rebanho, mesmo ainda não sendo ordenados. “A gente coordenou durante alguns meses uma igreja local formada por pessoas de sete povos diferentes. Então essa é a riqueza, nesses países você tem a mistura étnica e o evangelho é um remédio também para essas divisões. Muitos conflitos na África, como guerras civis, existem por causa disso às vezes. Uma etnia chega ao poder e não reparte o poder com as outras e há uma revolução e uma guerra civil. Então era a língua francesa que unificava. Os cultos e ensinamentos eram em francês, mas com muitas músicas nas principais línguas locais.”

 O pastor conta que foram tempos difíceis e com poucos recursos financeiros. “O próprio país não dava condições e a gente tinha um sustento muito baixo. Eu lembro que tinha mês que na hora de fazer as compras, a prioridade, claro, era a alimentação e os itens de higiene básica a gente tinha, às vezes, que alternar: se em um mês a gente precisasse comprar o creme dental, era preciso escolher entre o desodorante e o shampoo ou desodorante e condicionador. A gente não tinha dinheiro para comprar muita coisa ao mesmo tempo.”

 Após esse período na África, o missionário voltou para o Brasil. “Voltamos para o Brasil e, nesse período, nossa primeira filha nasceu, depois de um tempo voltamos para a África de novo, mas dessa vez fomos para o Senegal. A nossa filha tinha onze meses quando saímos de Uberlândia e fomos para o Senegal. Eu tinha um receio de ir para lá com uma criança pequena, porque eu tinha pegado malária nove vezes e sabia o quanto era difícil e o maior índice de mortalidade é de 0 a 5 anos por causa da malária. E eu pensava: “eu e minha esposa estamos aqui para o que der e vier, mas a minha filha é inocente e não tem escolha” e eu não queria colocar a vida dela em risco, eu ficava receoso. Mas o Senhor me confortou e me disse: “Podes vir, porque eu vou estar do outro lado te esperando.” Foi uma palavra de conforto e nós decidimos investir nesse projeto.”

 Eduardo conta que ele e sua família viveram tempos difíceis, mas tempos em que a presença de Deus se manifestou. E a palavra que Deus havia dito quando ele estava no Brasil com receio de ir para o Senegal – “Podes vir, porque eu vou estar do outro lado te esperando.” – foi o que os guiou durante todo o tempo que ficaram no país. “Inclusive, a nossa segunda filha veio quando já estávamos na África. Não estava nos nossos planos levar uma criança para lá e, nem tampouco, ter uma criança lá, sabendo do contexto de hospitais precários – a gente vai em hospital, às vezes vê poça de sangue na sala pré-operatória, descuido com a higiene, urubus no pátio do hospital, os próprios familiares é que vão para cuidar dos pacientes, porque não tem pessoal médico. Então o contexto é inimaginável. Sabendo disso, não era ideal ter um filho ali, mas a gente levantou recursos e tivemos a nossa filha na capital em uma clínica particular e foi bem diferente, os cuidados foram 100%.”

 O período no Senegal foi também marcado por fortes tensões. “Atuamos em uma região separatista, que foi berço de um movimento independentista no Senegal, chamada Casamansa. E lá, estávamos no meio da mata, era uma região bem inóspita, a cidade mais próxima ficava a 15 km, a fronteira com Guiné Bissau a 5 km. Ao norte ainda estavam os rebeldes, entre nós e os rebeldes 2 km com florestas e minas terrestres ainda enterradas. Ao nosso leste tinha a base militar e vez ou outra tinha o agravamento dessas hostilidades. De madrugada a gente escutava os tiroteios de metralhadoras e bazucas e o pior era quando lançavam morteiros ou tiros de canhões. A gente via o carro tanque se movimentar na frente da nossa casa e vez ou outra os tiros eram dados e, quando lançavam os tiros de canhão, a gente sentia a vibração e o teto da nossa casa vibrava e depois de alguns segundos vinham os estrondos.”

 Eduardo conta que nesse período difícil se lembrou de algo, “eu tinha ouvido uma frase na época que dizia o seguinte: mesmo que eu trema em cima da rocha, jamais a rocha tremerá embaixo de mim. Então, a gente tremeu naquela situação. Até porque outros missionários já tinham passado por isso e abandonaram aquela região, por isso que a gente veio depois de 10 anos, quando a base que havia sido abandonada se tornou o nosso local para reestruturar alguns projetos. E a gente tinha essa tentação de fugir ou de, pelo menos, preservar a segurança, mas Deus não nos deu nenhuma direção sobre isso e a gente continuou, claro, com prudência. Eu fui me informar junto aos militares, ver na cartografia a posição no mapa para ver se a gente estava na linha de tiro. A gente não estava na linha de tiro, mas indiretamente alguma coisa poderia acontecer, como já aconteceu com outros missionários.”

 O missionário e a família passaram um período no Sul do Senegal, depois voltaram e ele pastoreou no norte do país e, foi a partir do Senegal que Deus começou a mudar a visão, pensando em um futuro e ali surgiu a visão para a Europa, onde moram atualmente.

Material Produzido por Radar Missionário, disponível na Revista Radar Missionário Edição 01

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