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Centrão mira Ministério da Agricultura e quer deslocar Tereza Cristina para o Itamaraty – Jornal O Globo

BRASÍLIA — Apesar de o presidente Jair Bolsonaro negar repetidamente que vai repartir a Esplanada dos Ministérios entre partidos da base aliada no Congresso, políticos do Centrão seguem articulando nos bastidores para tentar abocanhar mais espaço no governo. Aliados do Executivo passaram a sugerir que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, assuma o Ministério das Relações Exteriores. O movimento atendaria a dois desejos: substituir o chanceler Ernesto Araújo e liberar a Agricultura para indicações de parlamentares.

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Um dos principais argumentos é que Tereza Cristina à frente da Agricultura demonstrou bom trânsito em diversas agendas internacionais. Recentemente, a ministra foi convocada a ajudar na interlocução com a China para a liberação de insumos destinados à fabricação de vacina contra a covid-19.

A ministra mantém diálogo frequentes com o embaixador chinês Yan Wanming. No auge da tensão causada por declarações do ministro Ernesto Araújo e do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) por questões ideológicas, Tereza Cristina atuou para evitar retaliações comerciais.

Com o apoio do setor produtivo, a chefe da Agricultura também tem atuado para ratificar o acordo firmando entre Mercosul e União Europeia. Anunciado em 2019, o tratado enfrenta resistência de países europeus que citam a política ambiental do governo Bolsonaro para sacramentar o acordo.

A defesa de Tereza Cristina para o Itamaraty também usa como argumento o fato de que ela poderia estabelecer com o vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia, uma relação mais próxima na área ambiental. O ministério do Meio Ambiente é comandado por Ricardo Salles que, apesar de criticado, foi garantido no cargo por Bolsonaro.

Em meio à expectativa de uma reforma ministerial, o nome de Tereza Cristina também foi citado para assumir a Secretaria de Governo e a Casa Civil. Segundo um importante interlocutor do governo no Congresso, o objetivo é abrir o espaço na Agricultura para parlamentares.

Aliado de Bolsonaro, o presidente do Progressitas, o senador Ciro Nogueira (PI), defende abertamente a substituição do chanceler Ernesto Araújo. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, na semana passada, o parlamentar defendeu mudança no Itamaraty, alegando

— Criou-se uma imagem mundial muito ruim para o país, que foi superdimensionada pela situação do Itamaraty. E aí estou falando como senador, não como governo. Eu acho que deveria ser modificado. Se isso acontecer, a Bolsa sobe 30%. A condução tem que mudar, a condução do Itamaraty hoje prejudica o país. Ou o ministro muda, ou muda a condução — disse.

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Em conversa com interlocutores na tarde de ontem, a ministra Tereza Cristina negou que saiba de qualquer mudança. Ela reafirmou que pretende seguir na chefia da Agricultura.

Ministério vago

Ontem, Bolsonaro, em entrevista à TV Band, voltou a negar que esteja negociando ministérios com o grupo de partidos conhecido como Centrão, apesar de a pasta da Cidadania ter sido prometida para o Republicanos. O presidente confirmou que o ministro Onyx Lorenzoni será deslocado do Ministério da Cidadania para a Secretaria-Geral da Presidência.

— Hoje o meu relacionamento com esses parlamentares do centro está harmônico, sem problema nenhum. Não dei nenhum ministério para eles. Estão dizendo agora que eu vou dar um banco para o Centrão. Não existe isso. Eu tenho um ministério vago, aqui da Secretaria-Geral, que a previsão é trazer o Onyx Lorenzoni para cá e botar uma outra pessoa no Ministério da Cidadania. Isso que está previsto no momento — disse Bolsonaro.

Depois, o presidente confirmou a troca, referindo-se a Onyx:

— Vai para a Secretaria-Geral.

Bolsonaro também negou que fará uma reforma ministerial e disse que o Centrão — que, segundo ele, é chamado assim “pejorativamente” — tem “responsabilidade” e não cobra troca de ministros:

— Não existe isso (reforma ministerial). Fisicamente, ninguém me cobra, do Parlamento, isso. Ninguém quer isso — disse o presidente, acrescentando:

— O Parlamento sabe, o pessoal que dizem, pejorativamente, (ser) Centrão, os partidos de centro, eles têm responsabilidade, sabem como está o Brasil. Não é hora de trocarmos ninguém agora para atender interesse político.

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O presidente disse também na entrevista que Araújo “continua” no cargo. Aliados que defendem a mudança pretendem continuar insistindo até convencê-lo.

Na edição de ontem do Diário Oficial da União, foi publicada a nomeação de José Vicente Santini para o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República. Conforme antecipou O GLOBO, ele está de volta ao Palácio do Planalto, para ser o número dois da pasta, um ano após ser demitido por usar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Outros cargos na mira do Centrão

Antes mesmo da eleição no Congresso, havia crescido sobre o governo a pressão do centrão para ocupar cargos no primeiro escalão hoje exercidos pelos militares. O grupo defende a nomeação de mais políticos em ministérios e mira, especialmente, duas pastas sediadas no próprio Palácio do Planalto: a Casa Civil, hoje a cargo de Braga Netto, e a Secretaria de Governo, responsável pela articulação política, ocupada por Luiz Eduardo Ramos.

A impressão de aliados de Bolsonaro no Congresso é que a “militarização” do governo atrapalha na interlocução com os partidos, além de ser um entrave para a liberação de cargos e emendas, moeda de troca importante para os parlamentares.

Durante a campanha, Bolsonaro também chegou a acenar ao centrão com a recriação de pastas, como Planejamento e Indústria e Comércio, que hoje são parte do Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes, que também poderiam acomodar aliados.

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