quinta-feira, março 28Notícias Importantes
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A Gratidão e Os Perigos de Uma Vida Boa

Nos últimos meses, tenho perscrutado o tempo que Israel passou nas Planícies de Moabe, ouvindo Moisés conclamar o povo de Deus a obedecê-lo e a entrar na terra prometida. Com o nariz em Deuteronômio, estou aprendendo coisas bem variadas sobre a gratidão que me parecem ser não apenas relevantes para este novo ano, mas também importantes nesta específica fase da minha vida.

Tal como Israel em Deuteronômio, nossa família está no final de um longo período de espera. Em 2011, nos mudamos para Toronto com toda intenção de retornar a Chicago três anos mais tarde. Mas passamos a amar nossa nova cidade e passamos a esperar que Deus permitisse que ficássemos.

Precisávamos, é claro, garantir um trabalho na cidade, e tratar da papelada necessária para conseguir residência permanente. Finalmente, completadas essas coisas, compramos uma casa e começamos um projeto de um ano de renovação. Há um mês, finalmente nos mudamos.

Após oito anos e meio, estamos em casa.

O final de uma longa espera, de muita expectativa, de desejar e orar intensamente, é emocionante — e também assustador. Pois assim como aprendemos em Deuteronômio, a paz e a prosperidade podem ser preocupantes.

Perigos da Uma Vida Boa

Em Deuteronômio 8, Moisés relembra ao povo que embora o deserto tivesse sido uma educação severa, era a formação da qual necessitavam. Especificamente, a necessidade de comida durante aqueles 40 anos ensinou aos israelitas a dependerem do pão de Deus (vv. 2–3). A fé não foi gerada em barrigas cheias e estômagos saciados. Foi gerada à medida em que o povo aprendeu a depender do maná que caía do céu seis manhãs por semana — uma provisão que sempre foi suficiente, não importa o quanto tivesse sido colhido.

Mas naquela hora em que o povo estava à beira de receber a longínqua promessa de Deus a Abraão, Moisés os relembra de que as lições dos tempos de privação logo cessariam. Eles estavam entrando em uma terra de abundância agrícola, e que tal fartura era uma dádiva de Deus para eles: “Comerás, e te fartarás, e louvarás o Senhor, teu Deus, pela boa terra que te deu” (v. 10).

Por um momento, suas palavras confirmam aquilo que seria nossa expectativa sobre o relacionamento entre a abundância e a gratidão. Quando a vida está no seu melhor, pensamos, certamente seremos mais gratos.

É por isto que as próximas palavras de Moisés nos surpreendem: “Guarda-te não te esqueças do Senhor, teu Deus” (v. 11). Moisés falou ao povo que todos as boas dádivas que os aguardavam na terra — casas e rebanhos, prata e ouro — poderiam ser causa, não de gratidão, mas de tentação. Ao invés de levá-los a louvar o Provedor, estas bençãos poderiam levá-los a pecados de ingratidão e de orgulho.

Isso nos lembra de que a prosperidade não garante a gratidão ou o louvor. Não seremos necessariamente mais gratos quando nos casarmos, mais gratos quando formos pais, mais gratos quando estivermos empregados, mais gratos quando estivermos saudáveis.

Pelo contrário, conforme Israel aprendeu no deserto, a privação pode nos ensinar sobre a bondade e fidelidade de Deus; a privação pode nos ensinar a “dar graças em todas as circunstâncias” (1Ts 5.18)

Chamados para Nos Lembrarmos da Graça

Há perigos reais quando a vida vai bem. No entanto, isto não significa que temos que nos sentir culpados ou preocupados quando as ondas turbulentas se acalmam e a crise abranda. Ao invés disso, nestas fases de bonança, de tranquilidade e paz, cada dádiva que recebemos de Deus se torna uma oportunidade para nos lembrarmos do evangelho — proclamar que Deus dá, não porque somos bons, mas porque ele é bom.

Moisés advertiu o povo para nāo olharem as boas dádivas da terra com presunçāo — e então creditarem sua própria capacidade: “Não digas, pois, no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas” (v. 17). Israel estava para herdar uma série de bênçãos para as quais eles não haviam levantado um dedo: casas que não haviam construído, vinhas que não haviam plantado, poços que não haviam cavado e campos que não haviam semeado.

Esta herança é um retrato do evangelho, que é as boas novas de que em Cristo, Deus nos dá algo pelo qual não trabalhamos, algo que não merecemos. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Tal como as casas e vinhas de Israel, os poços e os campos, a salvação é uma dádiva que podemos desfrutar — mas pela qual não podemos reivindicar crédito algum.

A gratidão é uma prática importante para nos lembrar daquilo que é verdadeiro sobre nós mesmos e o que é verdadeiro sobre Deus: nossa falta de mérito e Sua generosidade.

Dê Graças

Por toda a parte vemos lembretes para agradecermos. Está escrito em canecas de café, estampado no Pinterest, proclamado pelos gurus de auto-ajuda. Mas estas vagas noções culturais de “sentir-se bem pelas coisas boas que você tem” não são a mesma coisa que a gratidão que um Cristão aprende a praticar.

O cristão pode ser grato pela escassez, grato pela dor, grato até mesmo pelo sofrimento, sabendo que “a provação da vossa fé, produz perseverança” (Tiago 1.4). O deserto tem tanto, se não mais, para nos ensinar sobre a gratidão quanto a terra exuberante e rtil.

E mesmo quando entramos em um período extremamente bom, devemos direcionar nossas mentes, não meramente às dádivas , mas também ao Provedor das dádivas. Nas Cartas a Malcolm, C. S. Lewis esboçou uma importante relação entre a gratidão e o louvor: “A gratidão exclama, muito apropriadamente, ‘Que bom da parte de Deus me dar isso!’ A adoração diz: ‘Qual deve ser a qualidade daquele Ser cuja longínqua e momentânea resplandecência são assim!’ A mente segue o raio solar em direçāo ao sol.”

Dar graças é adorar.

Traduzido por Luiz Santana

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